Eu tenho saudades tuas - Creepypastas #6
Este relato foi postado no Reddit.
Eu adiei o maior tempo possível para ter um telemóvel (celular). Não tinha outra boa razão, para além dos custos, acho eu. Quando eu estava a começar a desenrascar-me sozinha na vida, não havia maneira de pagar um tarifário mensal. Eu era a única dos meus amigos que ainda dependia da linha de telefone e isso levava todos à loucura. Decidi esperar até ao meu vigésimo quinto aniversário, quando, finalmente, eu sentia-me suficientemente segura financeiramente para comprar um para mim. Todos os meus amigos riram-se, mas dava para notar que eles estavam aliviados. Para ser honesta, eu também estava bem satisfeita. Como se verificou, os telemóveis (celulares) são ridiculamente úteis – quem diria?
Eu não recebi mensagens até passar, mais ou menos, um mês desde quando comprei o telemóvel (celular). A primeira mensagem que recebi foi de um número desconhecido e estava escrito apenas: “Eu tenho saudades tuas”.
Fiquei confusa – que tipo mensagem introdutória foi esta? Parecia-me um pouco dramática… e foi quando percebi.
Um ano antes, eu acabei com o meu ex-namorado caloteiro. Lembro-me que ele era muito infantil. Ele queria que eu cozinhasse, limpasse, marcasse-lhe as consultas no médico, e dar-lhe – sim, DAR-lhe – metade do meu salário todos os meses, já que ele não achava necessário ele arranjar emprego. Eu não devia ter ficado tanto tempo com ele – a sua maldita boa aparência – mas quando me apercebi, eu expulsei-o, como todas as outras namoradas/vitimas fizeram antes. A minha teoria era que ele espiou o meu facebook ou que implorou a alguns dos meus amigos para lhe dar o meu número. De qualquer maneira, esta não seria a primeira vez que ele tentou contactar-me, e eu não seria a ultima.
Por fim, decidi não responder. Primeiro, eu sabia que ele ia tentar manipular-me se lhe desse oportunidade, como de costume. Segundo, era muito satisfatório para mim fazer ele sentir-se desprezado.
Os meses seguintes pareciam confirmar as minhas deduções. Os seus ataques não eram constantes, mas eram sempre apelos vagos que pareciam indicar que ele precisava de um novo anfitrião para o acolher e não encontrava nenhum. Não foi surpresa que ele tentou contactar-me primeiro, já que fui a mais leal e mais duradoura de todas as suas namoradas… e a mais ingénua. Eu era o alvo perfeito.
As mensagens eram sempre as mesmas, e rapidamente tornaram-se cansativas.
“Eu tenho saudades tuas.”
“Quem me dera poder ver-te…”
"Pareceu-me ver-te no meio da multidão hoje, mas era apenas um sonho.”
Ugh. Patético. Uma noite, oito meses depois desde que comprei o meu telemóvel, descuidei-me.
Eu tenho de admitir, eu tenho bebido. Começou apenas com uma cerveja para ajudar a relaxar depois do trabalho rapidamente tornou-se numa festa de uma só mulher. Eu estava completamente bêbada quando mensagem muito mais longa que o habitual.
“Eu tenho tantas saudades tuas. Eu sei que não lês estas mensagens, mas hoje, mais do que nos outros dias, eu preciso que saibas o quanto eu te adoro. Eu faria qualquer coisa para te poder só mais uma vez…”
Hoje, mais do que nos outros dias? Pensei. Tentei lembrar de dentro das profundezas nebulosas do meu cérebro embriagado. A primeira coisa que pensei foi que seria o nosso aniversário. Claro, porque não? Seria a oportunidade perfeita para um pouco de manipulação. Ele era um cretino, mas era esperto.
Então tive uma ideia. Ele quer joguinhos? Está bem. Vamos jogar. Eu comecei a escrever e o auto-corrector esforçou-se para clarificar as minhas palavras através da bebedeira. “Se queres vir para me ver, então porque não o fazes?” E depois, eu dei-lhe a entender que eu sabia que ele estava-me a espiar. “Sabes onde me encontrar. ”
Enviei, e, com isso, mudei o meu destino.
Quando acordei na manhã seguinte, tinha treze chamadas não atendidas. Eu tentei lembrar-me, que merda teria feito na noite anterior. Eu assustei-me quando vi o meu histórico de mensagens, isso esclareceu-me muito. Bem, ao menos eu não atendi o telemóvel, pensei. Silenciosamente rezei para que ele não me escrevesse ou telefonasse outra vez, mas temia que lhe tinha provocado.
Para meu alívio, ele parou de me mandar mensagens. Por uma semana, o meu telemóvel estava alegremente livre dos seus assédios. Eu estava secretamente satisfeita, felicitando o meu eu bêbado pela sua ingenuidade.
Na semana seguinte, bateram à minha porta. Eu abri e vi um homem com crachá, a sua expressão solene e o uniforme azul contrastava com a luz do sol da manhã. O seu parceiro estava atrás dele, com uma expressão rígida como uma rocha. Eu senti uma frieza estranha a circular nas minhas veias enquanto eles encaravam-me.
“Uh – Bom dia, senhores agentes. Há algo de errado?” Perguntei.
Sem apresentação, eles convidaram-se a entrar. Eu deixei-os, sem ter a certeza do que eles estavam à procura, mas positiva de que eles não iriam encontrar. Achei que era engano, fiquei surpreendida quando começaram a fazer perguntas.
“Conhece alguém chamada de Silence Madison?”
Fiquei perplexa, completamente confuso. “Acho que não… porquê?”
“Encontramos uma série de mensagens enviadas para no seu telemóvel. Encontramos apenas uma resposta de tua parte.” O agente mais novo mostrou uma print das mensagens que eu recebia, juntamente a minha resposta embriagada.
Comecei a ter noção da realidade quando o agente mais velho perguntou: “Tu recebeste estas mensagens?”
“Sim…” - Respondi. Rapidamente completei - “Mas elas eram de um número desconhecido. Pensei que eram do ex-namorado.”
“E foi por isso que mandou essa resposta?”
Eu estava a soar de nervos. “Bem… sim. Achei que iria fazê-lo parar. Eu estava um pouco bêbada, então talvez não fora a melhor decisão…”
O agente mais velho suspirou “Parece que houve um acidente bastante infeliz.”
“ Como assim?”
Ele respirou fundo e abriu a boca… Silence teve um primeiro ano de faculdade muito duro. As aulas era difíceis, ela não se integrava. A sua vida era um caos de stress e papelada. E, quando ela achava que podia piorar, a sua melhor amiga de infância, Raquel Wagner, morreu no acidente de carro. A morte foi rápida, mas a dor de Silence não.
Ela ficou mais reservada ao longo do semestre. A sua família e amigos lamentaram a morte de Raquel, obviamente, mas todos seguiram com as suas vidas, como de costume. Silence, por outro lado, não conseguia seguir em frente, não queria deixar a sua amiga no passado. Ela tentou lidar com isso, realmente tentou. Ela tentou fazer uma cara feliz que ia para as aulas. Mas, lentamente, ela afogou-se na escuridão que parecia não ter saída.
E quando essa escuridão era verdadeiramente grossa, sufocante, insuportável… ela mandava mensagens ao antigo número da Raquel. Um gesto inútil, mas algumas vezes isso trazia-lhe algum conforto. No aniversário da morte de Raquel, quando ela estava no seu pior, ela finalmente teve resposta.
“Se queres vir para me ver, então porque não o fazes? Sabes onde me encontrar. ”
Ela tentou telefonar, mas ela nem sequer recebeu resposta do voicemail – porque eu nunca tinha-o configurado. Então, ela fez a única coisa lógica que ela poderia fazer. Ela pegou no x-acto (estilete), baldou-se do emprego e abriu as sua veias à possibilidade do infinito.
Eu cometi um erro terrível naquela noite, um erro que acabou com a vida de alguém. O pai dela nunca me perdoou, não importa quantas vezes eu pedi desculpa, a mãe tinha um ódio profundo por mim. Eu entendo que, para ela, eu fui o empurrão final para a morte da sua filha.
A policia repetiu várias vezes que Silence acabou com a sua própria vida. Que eu não era a culpada. Mas dentro de mim, as sementes da culpa espalharam-se pelo meu coração, crescendo como ervas daninhas que não davam para arrancar.
Passou um ano longo e duro. Consegui-me recompor e continuar com a minha vida, apesar de ter a sombra sobre mim da morte por enforcamento de Silence a assombrar-me. Não importa o que eu faço, eu simplesmente não consigo esquecer ela, não importa o quão longínquo o incidente parece.
Ontem foi o seu aniversário. Dei o meu melhor para passar por esse dia, fingindo que nunca ouvira esse nome, que não conhecia essa história.
Estava a correr bem até por volta das dez da noite, quando eu recebi uma mensagem. Uma mensagem de um número que eu tentava desesperadamente esquecer durante o ultimo ano.
“Obrigada!”
Escrito por spleepyhollow_101, traduzido por Atrás da Porta.